Escolha uma sequência de seis números. Para a maioria das pessoas, não terão significado algum. Imagine agora informar a um grupo que são os números sorteados que dão acesso a uma soma milionária. O significado deles se torna outro. Esse ensinamento está presente no filme “Nunca deixe de lembrar”, concorrente alemão ao Oscar de Filme Estrangeiro de 2019, disponível na plataforma Netflix
A obra é baseada livremente na trajetória do artista Gerhard Richter e na vivência que ele teve em Düsseldorf com Joseph Beuys, a quem é atribuída a analogia que abre este texto. O diretor Florian Henckel von Donnersmarck caminha justamente pelas veredas que mostram como experiência de vida podem ser mais ou menos significativas.
O protagonista, nascido na Alemanha Oriental, ama, desde criança, as obras de arte abstratas e expressionistas consideradas impuras e imorais pelo regime socialista. Consegue ir para Alemanha Ocidental, onde precisa se reinventar. É das histórias familiares ligadas ao nazismo e do socialismo soviético que retira a força para mesclar fotografia com pintura.
Dá assim à sua trajetória de vida universalidade, mostrando que o maior segredo da arte de qualidade pode estar em dar a cada passo pessoal uma dimensão coletiva e épica, pois há conexões entre aquilo que cada um sofre e faz e o conjunto da humanidade como um todo. Nesse sentido, o filme alemão nos ajuda a encontrar nossas próprias veredas existenciais.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.